terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Última Corda

         Era uma vez um grande violinista chamado Paganini. Alguns diziam que ele era muito estranho. Outros,  que era sobrenatural. As notas mágicas que saiam de seu violino tinham um som diferente, por isso ninguém queria perder a oportunidade de ver seu espetáculo. Numa certa noite, o palco de um auditório repleto de admirados estava preparado para recebe-lo.
         A orquestra entrou e foi aplaudida. O maestro foi ovacionado. Mas quando a figura de Paganini surgiu triunfante, o público delirou. Paganini coloca seu violino no ombro e o que se assiste a seguir é indescritível. Breves e semibreves, fusas e semifusas, colcheias e semicolcheias parecem ser asas e voar com o toque daqueles dedos encantados.
         De repente, um som estranho interrompe o devaneio da platéia. Uma das cordas do violino de Paganini se arrebenta. O maestro parou. O público parou. Mas Paganini não parou.
         Olhando para sua partitura, ele continua a tirar sons deliciosos de um violino com problemas.
         O maestro e a orquestra, empolgados, voltam a trocar. Mal o público se acalmou quando de repente, outro som perturbador derruba a atenção dos assistentes.
         Outra corda do violino de Paganini se rompe. O maestro parou de novo. A orquestra parou de novo. Mas Paganini novamente não parou.
         O maestro e a orquestra, impressionados, voltaram a tocar. Mas o público não poderia imaginar o que iria acontecer a seguir. Todas as pessoas pasmas gritaram OOHHH!
         Que ecoou pela abobadilha daquele auditório. Uma terceira corda do violino de Paganini se arrebente. O maestro para. A orquestra para. A respiração do público para. Mas Paganini não para.
         Como se fosse um contorcionista musical, ele tira todos os sons da única corda que lhe sobrara daquele violino destruído. nenhuma nota esquecida. O maestro empolgado se anima.
         A orquestra se motiva. O público parte do silêncio para a euforia, da inércia para o delírio.
         Paganini atinge a glória.
         Seu nome corre através do tempo. Ele não é apenas um violinista genial. É o símbolo do profissional que continua diante do impossível.

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